25.4.05

O teu Olhar.

Neste dia de mar e de escuro
É tão próximo o intenso brilho do teu rosto
São tão distantes e longos os horizontes.
Os ritmos soltos em que o vento baralha as cartas que me escreves-te
Fazem com que a tinta com que me falavas se escorresse para a caixa da saudade indolor.
Vejo o regresso das aves ao nosso ninho, numa repetição incessante de sons nossos
Aquelas aves que tinham uma memória eterna do teu rosto
Voam sempre dentro do teu sonho
Do meu sonho.
Como se o teu olhar as sustentasse.

Molero

14.4.05

A tua Loucura.

Branco é a cor em que se envolvem os teus silêncios, recorrentes e mergulhados em ardor cortante como espadas.
Os teus braços enlaçam-se nos meus como cobras, no risco de uma aguarela imóvel e muda.
De súbito, o grito estremece a paz que restava entre Deus e o Diabo.
E o mais que sobra em mim é o vazio em que sobre ti acabo.
E respiro no mundo dos teus silêncios, eles me perseguem, me seguem.
São eles a mais perfeita forma de loucura.
A tua loucura.
A loucura que é a minha e que em silêncio te irá encontrar.

Molero

5.4.05

A tua Voz.

Não é mais do que uma submissão aquilo que me prende ao teu olhar. Se ao menos me ignorasses, com aquele desprezo embebido no molho pungente de que só tu mesma sabes a receita. Espero por esse NÃO que ainda não disseste, porque não o consegues dizer. E eu sei disso!
Encosto a cabeça no livro que me serve agora de casa, alheando-me do mundo, do teu mundo, como que hibernado na solidão com que o teu olhar me corrói. Retiro os óculos cuidadosamente, e fixo toda a minha atenção na prateleira à minha frente, incauto. Um livro, solitário, numa multidão de tantos outros, sorri-me em tom de gozo e sussurra-me com a tua voz "Cem anos de Solidão".

Molero