16.8.06

Horizonte azul

Dizem que ainda me lembro dos verões, longe,
a sombra das palmeiras, o sim do horizonte azul,
o mar enrolando abraços de algas e de vento sul,
o sol gritando luz em cântico de monge.
Dizem que ainda vejo a areia beije colada à pele,
ou o mar enrola limos e horizonte sentido,
o timbre das ondas nas costas, só zumbido,
dizem, que há uma lua quente que revele
o ardor dos olhos, os sulcos dos dedos
parece a sombra das palmeiras, os segredos,
duros como rocha de praia, como cinzele,
enrolando o mar no vento, na concha, na vela
água de passados escritos nas terras, cavadas,
sol que seca o já seco por outros verões, dedadas
do passado no presente, na presente noite paralela.
Dizem que ainda escondo o escuro da noite quente,
ou os olhos escurecem por si, fundo preto,
o sim das ondas no escuro, sombrio folheto
de ondas nas costas, luzeiros, agente
de verões outros, de outra candura,
onde os olhos iluminavam o fundo,
onde o sim das ondas era vagabundo
sem cama nem furtiva armadura.
Dizem que ainda pernoito na noite pura,
na sombra das palmeiras, o não do horizonte escuro,
o mar enrolando balas de chumbo e de futuro,
de verões outros, de outra figura.

Molero

13.8.06

Enxugo

Minha dor agiganta com tanta
seca.
Procurarei inundar terras
secas,
taparei o sol do chão áspero.
Correrei na noite, como radiosa
criança,
falarei de chuva nas terras inquietas,
espalharei os sons nas ruas inundadas.
Esquecerei a seca, o sol desumano,
a luz cruel da falta,
da falta de sonho líquido, aguado.

Brilhava.

Molero