5.4.05

A tua Voz.

Não é mais do que uma submissão aquilo que me prende ao teu olhar. Se ao menos me ignorasses, com aquele desprezo embebido no molho pungente de que só tu mesma sabes a receita. Espero por esse NÃO que ainda não disseste, porque não o consegues dizer. E eu sei disso!
Encosto a cabeça no livro que me serve agora de casa, alheando-me do mundo, do teu mundo, como que hibernado na solidão com que o teu olhar me corrói. Retiro os óculos cuidadosamente, e fixo toda a minha atenção na prateleira à minha frente, incauto. Um livro, solitário, numa multidão de tantos outros, sorri-me em tom de gozo e sussurra-me com a tua voz "Cem anos de Solidão".

Molero