27.11.07

Condicional

Muitas palavras poderiam contar a estória de um sonho,
de uma cor,
de um som,
muitas palavras poderiam percorrer
o caminho percorrido pelas pernas
de homens antigos e dispersos,
encaixados nas prateleiras do pretérito,
talvez imperfeito numa perfeição futura,
Saberia eu que muitas palavras são vários sons,
sonhos e cores,
que juntos percorrem o caminho percorrido
pelo tempo,

Sorria.

Molero

11.11.07

Continuasse

Há dias em que as manhãs parecem
tardes
e noites.
Há dias em que acordo e quase
me esqueço de desunir
as pestanas,
abrir
os olhos.
O nada
é o barro
em que moldo
a manhã,
a tarde,
a
noite,
a
manhã
de novo.
Outra
vez,
e
outra,
outras,
muitas. Tantas que nem
consigo contá-las por serem
tantas,
Tantas.

Há manhãs em que não sei
que ruas piso,
que passeios hei-de tomar, carris,
apeadeiros. Fervilham.
Tudo.
Tudo.

Há dias em que é o vento quem me guia,
forte ou fraco,
caminha junto a mim,
moldando-me o caminho como barro,
as manhãs,
as tardes,
e as noites.
Soprava-me os passos que tomava
e assim continuei
até que outro vento me continuasse
me moldasse a manhã
de amanhã,
amanhã,
Amanhã.

O amanhã é uma manhã como
todas
as
outras,
não sinto as pestanas
a desunir,
apenas sinto
que
nada Sinto.
Nada.
Nada como o nada que me guia.
E o nada que me guiará.
Será?

Molero

adaptação de poema de Alberto Caeiro

3.11.07

Sinfonia às gaivotas

O mundo existe, respiramos, comemos,
Há poemas e pétalas que nascem e morrem sem que pestanejemos,
Há mãos acariciando corações,
Olhares aconchegando suspiros e convulsões,
A casa,
Regressamos aos cinco anos em cada inspiração,
Uma canção entoada por vozes amigas
Próximas e distantes,
E duas gaivotas que esvoaçam como antigamente,
Perdidamente,
Subitamente,
Mente,
Há amigos como poemas e pétalas que nascem,
Nascem,
Secam,
Nascem de novo,
Que esvoaçam tão velozes,
A casa,
Regressamos à casa onde os afectos são
Móveis, talheres e janelas,
A casa,
Um vento inquieto separa as folhas do próximo Outono,
Do próximo som,
Da próxima palavra,
Poema,
Do próximo amigo que
Respira,
Inquieto,

Como poemas e pétalas
Que nascem.
Sem fim.

Molero