17.9.06

Verbo do amanhã

Escorre-me nas mãos o
sangue. É profunda a vermelhidão que destila.
Um som pantanoso.
Os verbos aqui devorando os ramos
e os cotovelos e os ombros,
brisa do sopro divino.
A água vestida de sangue. A água com a força das
entranhas íntimas. Intimamente.
Prendo esta força, e bebo a água viscosa. Estou
branco de sonho, impreciso, fosco, oco de versos,
baço de verbos. A escuridão que a brisa dos sons me
pinta na boca. Invadir campos abertos. Escorre-me
nas mãos o verbo do amanhã,

morrer.

Molero

7.9.06

Por fim os ventos

Suponho que os ventos são palavras.
Palavras, somente.
Que escondem as sílabas do som, sepultam o toque
da brisa nos braços, ocultam
o bailado das pernadas como poemas. Não
me pareces verde como antes,
os sons da cara confusos, o tacto
das mãos solto por transparente,
os poemas inertes por desafinados.
Palavras.
Divago nas palavras em que envolvo as sílabas,
nas palavras em que te toco nos cotovelos,
nas palavras em que bailo contigo nas vogais do som torpe.
Torpe.
Discorro sons pelos cantos da boca, pelas
falhas entre dentes, branco, selvagem timbre do vento,
palavras. O verde já não o é, os
poemas afinaram para o negro.
Vagabundo de cara pousa numa barba feia e esborratada,
burguês de mãos negras em alvo colarinho.

Divago nos verbos dos livros pretos, cotovelos de dor,
Ficar, calar, divagar, tombar,
cair, render, acabar.

O verde já não o é.
Por fim escondeu-se.

Molero