27.6.06

Conseguisse eu amar as pedras

Construí pontes, como limpos devaneios, penedos
conseguisse ter caras no lugar de pedras, narizes e veias,
a quem chamasse amor, em cada segundo pudesse arrancar-te um
pouco mais de aridez, de secura.
Esta palavra. Agora. Este verso. Soubesse que a verdade
poderia corrigir com que, nesta
penúria de ambos, os teus devaneios
vencessem a dureza dos penedos. Como em gestos
de narizes e de veias e de pedras, te repusesse uma semente
que regava ao inspirar o teu cheiro,
ao pisar a tua ponte, silêncios. Confundindo os teus,
trocando a tua orla bocal pelo copo em que sede abafa a água
de sonhos já secos. Aí, sobre as pontes que construíra, navego
de vez pelas sombras de pólen e amor em ocultos.
Faço das pontes saída e entrada de campos novos e cheios e flores.
Faço o mesmo ao amor, sempre que entre nós
há portagens de silêncios e ocultos e seca. Num quadro sem cores,
de castanhos, de sol obtuso, de nuvens maciças, pontes e rochas
e o defunto mar do tempo em corrida
e a corrida não para, nem o tempo, nem o vento, nem nós.

Roubarei eu o tempo que perdemos?
Conseguisse ter a tua cara no lugar das pedras, narizes e veias, conseguisse.
Conseguisse eu amar as pedras.

Molero

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

I like it! Keep up the good work. Thanks for sharing this wonderful site with us.
»

3:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

I like it! Good job. Go on.
»

7:41 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home