28.4.06

S

volto a casa, casa, chegada de uma partida que nunca tive, nunca,
vivo nas sombras do que teria sido, apenas decido as letras que gravo,
gravei, tentei dizer-te nunca serás o que quero que sejas, nunca, jamais,
cerro os dentes a cuspir bocadinhos de raiva, de sangue branco, ainda sangue

teu dentro do corpo meu. Corpo, corpo. Um porto de barcos em imagem, fotografia
reflectida no chão espelhado que limpas, que envernizas, com a força que o mar agarra
a terra. Terra. Salivo barro do chão. Limpas os cacos de mim no mosaico da tua sala, sala dos dias em que vimos
as nossas bocas feitas uma, os nossos braços feitos dois, as nossas pernas feitas duas,
os nossos olhos feitos dois, a nossa alma ainda duas. Duas, sempre duas. De boquinhas bem caladas,
rejeitadas, o que dissemos ao ouvido alheio nunca foi ouvido, pisado, beijado. As tatuagens dos meus dedos a agarrar o teu peito, as mãos, rebolar os teus olhos por entre os dedos do oculto. Insulto, insuflo a tua saliva embrulhada em vocábulos.

Sou um corpo feito de sangue,
líquidas astilhas de ti dentro das minhas veias.

Molero

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Belo espaço este; voltarei com assiduidade. E este poema está realmente bem montado! parabéns

um abraço, continuação de bom trabalho

hugo m m

10:38 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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7:40 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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