2.4.06

Gatos

Parado na avermelhada última tarde em que vi teus olhos,
e tenros, e ternos, praguejados de intensa chama extinta
olho-te de frente, como quem estagnado espera quem alguém o encontre. Entre a terra e o céu. Dormentes estão os olhos, as mãos estanques, esgotadas. Tu
estás no assento do remoto. Afastado pelas mãos corpolentas do nosso mar defunto. Atlântico do teatro das recordações. Parente de alvitrar o coração teu nos dedos meus.
Adeus, pincesa do oculto. A deslumbrante harmonia que me transporta até à tua catre. Perco-te nos lençóis da tristeza inata. Que me faz colher. Colher. Nas ruas, nas ruas. Torturas, profundas. No perfeito dinamismo da anca, das mãos. Cinco esfinges em forma de luva. E

por fim, captas as asas que foram as minhas e cruzas a água que desune nossos gestos. Prensas
a minha mão contra a tua. E, como os gatos, cheiras as minhas pernas mas não ficas

aqui.

Molero