21.3.06

Rosto de Pessoa

Acordo com a testa cheia de bocados do Pessoa
no desafio constante, incessante,
de que um só corpo não tenha
uma só alma, nem um sentir só.
E no arrepio de tentar sua face tocar, esbarro
no rugosidade do tempo e entro nele,
inanimo-me por aquilo que calado me anima por dentro.
Mas sem que dentro de mim respire um suspiro de vida, sinto
que os lírios, que as plantas vão correndo, estendendo,
os braços, as folhas-mãos
que na ponta escondem o lamento,
que os meus passos escrevem no vento.

Ou quando consigo estender o chão sobre o cansaço, o desgosto
e escolho os meus traços, em que desenho o rosto.

Molero