19.1.07

C

Como se fossemos visitados pela mesma mão,
mortes,
espelhos,
eu é que saberia,
o dia em que esconderias as mesmas mãos e as mesmas mortes,
espelhos de almas cinzentas,
vorazes tormentas,
mortas,
sombrias,
risos de sussurro latentes,
sentidos confusos,
recordações,
pretas monções,
ventos e respirações ao lado,
ao lado do ouvido,
dias e ruas frias,
coisas,
telefones,
podias
dizer as palavras sombrias,
nos dias e nas ruas frias,
já mortas,
espelhos já negros,
morrem já negros a nossa morte,
a janela fechada,
o mundo derrotado,
o medo,
voltado para cima,
a cabeça,
os braços,
na cama
do nosso medo,
voltamos,
os dois,
conversamos como desconhecidos,
outono escrito ao contrário,
esquerdino de sofrido destino,
erros,
enterros de palavras caladas,
esperança,
onde vos guardarei, sorrisos?
latentes,
a cabeça,
os braços,

se voltasse aos dias sem cheiro, ao deitar
no segredo da ironia, nem melancolia,
apenas precisaria de lágrimas devolutas de razão,
como passos de um ladrão,
de um cão,
sem perdão,

tu não, não, ter-te-ias acabado num horizonte sem luz,
como se fossemos visitados pelo mesmo sopro, pela
mesma mão, então? adeus mãos e sopros, adeus
mortes,
espelhos,
eu é que sentiria a podridão,
sem perdão.

Molero