13.11.06

Gosto deste destino

Gosto do destino sofrido, sangrento, o
sofrer embebido em lagos de dor, sofrer, e
temer lobos negros sombrios a devorar as cabeças
com a fome com que os ventos comem os pantanos, e
sem saber que as cobras nos comem por dentro, por dentro,
devoram as veias e as teias, os segredos e as correias, e
sem saber que os leões quebram os ossos da alma, aos bocados, aos
pedaços, e
sem saber que sem sangue os braços caem, caem
na pedra do chão, sangrento de sangue turvo, o
destino que sofre cá dentro, gosto do destino
afogado de negro, tolhido de lava a queimar, lento,
os lobos a fome as cobras as veias e as teias
e os segredos e as correias
e, no último ladrar dos cães da alma
no último soprar do vento nos pantanos,
dentro,

gosto deste destino,
gosto do destino que me espera para cairmos,
para cairmos juntos.

Molero