8.6.07

Lisboa

Caminhámos infinitamente pelas ruas,
pelas ruas de uma Lisboa que empalidece,
se me lembrasse das árvores, dos frutos,
dos caminhos que se cruzam,
das certezas que unindo-se esquecem-se de nós,
caminhamos,
hoje caminhamos por uma cidade que não conhecemos,
ao de leve, como virgens de ruas e de praças,
pássaros cruzam diagonais ligeiramente doces,
ligeiramente penteadas,
se me lembrasse das árvores
dir-te-ia que gosto de ti,
que gosto,
apesar de saber que nada nas minhas mãos nasce,
ontem percorri os silêncios em escadas de outras vidas,
os olhos arrogantes, indignadamente arrogantes,
dir-te-ia que gosto de ti,
as ruas da cidade escurecem à força de lanternas,
há certezas que me esqueço de cumprimentar,
esticam a custo os ângulos da boca, nem as vejo,
e lembranças,
a casa em que caminhámos infinitamente esquecidos,
infinitamente esquecidos de nós, a casa morreu,
morreu, falavamos sem falar, desconhecidos
que nem nome penduravamos ao pescoço,
a casa
desconhecidos que nem as sombras veriamos boiando sobre nós
a casa morreu
e com ela a Lisboa escurece sobre nós,
e vamos, escondidos,
caminhando infinitamente pelas ruas do fim.

Molero