10.7.07

Sabor

Calado
deitado
espando-me
corrigo-me
volto a errar
errando-me.
Um rio
um sonho
um passado
vários futuros
uma sombra
um papel
vários versos
uma ideia
uma letra
talvez várias
juntas
separadas
hífens
travessões
interrogações
um lago de exclamações
e perdões
aos montes,
perdidos,
nos refrões.
Um poema
várias manhãs,
o laranja
do sol,
beijos
pescoços
o dorso,
um ligeiro
harpejo
com os olhos,
um nome
um dedo
vinte e um graus
chuva
em ré maior,
vento
nem forte
nem fraco
batendo
nos vidros,
um sábado,
é sempre
sábado
até ao fim de tudo.
Jazz
fado
bairro alto
guitarras
pessoas
Pessoa.
Chorar
porque sim
porque não.
Sorrir
porque não
porque não.
Uma fotografia
a quem chamo
poema.
Fumo
muito fumo
e pessoas
canela, tabaco
café, cereja.
Uma certeza
meia dúvida,
saboreando-me,
um cigarro
sem fim
enfim sós,
cheiros
barcos
comboios
bicicletas
e imagens.
Ik hou van jou.
Deitado
alastrando-me
a dádiva
subindo
subindo-me.
Calado
deitado
num eterno
barco de chocolate.

Molero