29.7.08

As cores do poema

Há dias de cores indefinidas. Peguei
nas sucessivas partes do poema
e tentei uni-las, para que
conseguisse fazer delas
um corpo inteiro
e uno,
como o teu,
peguei em seguida
nas diversas partes do teu corpo,
para que conseguisse fazer delas
o meu,

Sorri.

Molero

14.7.08

Segundos círculos

Tivera sonhado que um dia conseguia viver com quase nada,
No entanto, viver com quase nada assemelhou-se longínquo e
fiquei pensando que conseguir viver com quase nada era difícil, De
seguida pensei
que viver com alguma coisa poderia fazer mais sentido,
Fiquei a pensar isto horas,
Depois pensei que realmente viver com quase nada se desenhava remoto,
uma vez que ter pensado que o conseguia, fez com que o conseguir,
ele próprio,
se tornasse distante,
Porém, uma vez que estava distante convenci-me em desistir de pensar
nisso e passar o resto da tarde a pensar noutra coisa qualquer,
porque, já que o pensar nisso o tornou distante,
se experimentasse passar o resto da tarde pensando
noutra coisa qualquer, poderia fazer com que
sonhar que conseguia viver com quase nada
se tornasse, enfim,

real.

Molero

2.7.08

O verbo apagar

Apagar-te, sim apagar-te, como se fosses
um novelo insignificante num mundo de
nadas, Apagar-te, sorrir perante ti e
nivelar os olhos com a régua das
palavras, frases e versos, seguir a
estrada do nada e ter como destino
o nada do nada, um nada cheio de
nada, a transbordar

de nada.

Molero