30.6.07

F de fim

Morrer.
Sou um quadrúpede que peca mortalmente.
Preguiça.

Molero

8.6.07

Lisboa

Caminhámos infinitamente pelas ruas,
pelas ruas de uma Lisboa que empalidece,
se me lembrasse das árvores, dos frutos,
dos caminhos que se cruzam,
das certezas que unindo-se esquecem-se de nós,
caminhamos,
hoje caminhamos por uma cidade que não conhecemos,
ao de leve, como virgens de ruas e de praças,
pássaros cruzam diagonais ligeiramente doces,
ligeiramente penteadas,
se me lembrasse das árvores
dir-te-ia que gosto de ti,
que gosto,
apesar de saber que nada nas minhas mãos nasce,
ontem percorri os silêncios em escadas de outras vidas,
os olhos arrogantes, indignadamente arrogantes,
dir-te-ia que gosto de ti,
as ruas da cidade escurecem à força de lanternas,
há certezas que me esqueço de cumprimentar,
esticam a custo os ângulos da boca, nem as vejo,
e lembranças,
a casa em que caminhámos infinitamente esquecidos,
infinitamente esquecidos de nós, a casa morreu,
morreu, falavamos sem falar, desconhecidos
que nem nome penduravamos ao pescoço,
a casa
desconhecidos que nem as sombras veriamos boiando sobre nós
a casa morreu
e com ela a Lisboa escurece sobre nós,
e vamos, escondidos,
caminhando infinitamente pelas ruas do fim.

Molero