23.4.07

Os cães

A casa, lugar onde sem sabermos o ar saiu e só nós ficámos, a casa, lá fora, junto do que ainda são girassóis, os cães ofendem as raízes de perna alçada, de perna alçada, perto do lagar, agora invadido de vácuo, sobram as silvas e as lagartas, a casa, em cima, no telhado, onde dantes se via a praia de espinho, não se vê agora mais que a recordação do mar, não se vê mais que o lugar onde sem sabermos o ar saiu e só ficámos nós, só nós, a casa, e lá fora, os cães descansam junto do limoeiro grande, descansam como que piscando o olho à recordação do mar, como que uivando para o horizonte sem fim,

, sem fim.

Molero

12.4.07

Que o apaga

Se as cores se entrelaçassem
numa difusão de certezas,
num turbilhão de grandezas,
coladas como irmãs numa noite de sol,
se ao ouvir-te os meus sonhos se formassem desformando-se,
a noite aquece o sonho num vento feito névoa,
sonhando, sonhando,
branco,
e há sinos que tocando agitam as cores sobre as plantas,
verde,
difuso,
cinzento de tão difuso,
preto de tão confuso,
baralhando, baralhando,
se as cores se entrelaçassem,
na casa onde sozinho o ar que sufoca as plantas pela boca,
pela boca,
e a noite que aquece o ar da manhã com garras de luz
fala-me,
revivam as cores numa alegria de perdizes,
e por entre um sonho de névoa ouço cantando a noite que o apaga,

que o apaga.

Molero